Brasil de Flato, o blog

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

A estranha relação entre o rock e a economia

Queen no Morumbi em 1981: megashow em plena crise
Quando é que existem shows internacionais com mais freqüência em países periféricos como o Brasil? A resposta convencional seria a de que os shows aconteceriam quando as pessoas têm mais dinheiro para pagar caro pelo ingresso, ou seja, em fases de expansão da economia. Mas a História mostra uma resposta completamente diferente.
O primeiro show internacional de rock no Brasil foi de Alice Cooper em 1974, quando o milagre já estava terminando, e depois, teve o Genesis em 1977, quando o milagre já tinha completamente termidado. Os shows eram raros nos anos setenta, quando a economia crescia a altas taxas. Já durante a década de oitenta, quando o Brasil passou por uma de suas maiores crises, multiplicaram os megashows internacionais. Em 1980, o Frank Sinatra tocou para um Maracanã lotado. Em 1981, com o PIB encolhendo 4%, o Queen fez dois shows no Morumbi. Em 1983, último ano da recessão provocada pela crise da dívida, quando o PIB encolheu mais 3%, o Van Halen e o Kiss passaram por aqui, sendo esta última responsável por lotar o Maracanã, o Morumbi e o Mineirão. Os shows internacionais ficaram mais numerosos ainda a partir do Rock in Rio de 1985, festival que trouxe medalhões como James Taylor, Queen e Rod Stewart, e bandas metaleiras no auge, ocmo Iron Maiden e ACDC. Naquele ano, o Brasil passou por uma elevada taxa de crescimento, na casa dos 7,5%, porém tal crescimento se deveu às exportações e não foi acompanhado de significativo aumento do poder de compra da população. Em 1987, depois do Plano Cruzado ter virado água, o Sting passou por aqui, lotando o Maracanã e em 1988, teve a primeira edição do Hollywood Rock.
Em 1990 o Collor tomou posse, teve aquele plano maluco, a economia encolheu 4%, mas mesmo assim, o Paul McArtney passou por aqui. No ano seguinte, ainda em meio à crise, teve a segunda edição do Rock in Rio. Em 1992, mais recessão, porém, em janeiro de 1993, grandes nomes do grunge, como Nirvana e Alice in Chains, vieram para mais uma edição do Hollywood Rock (e ainda teve a história da suposta presença de Dave Grohl em um jogo entre Ponte e Guarani).
O auge do Plano Real, que durou de 1994 a 1997, que teve economia crescendo e câmbio valorizado, não aumentou a freqüência dos shows internacionais. Em 1998, logo após os efeitos da crise asiática, veio o U2 com seu Popmart. Durante o início da década seguinte, com a economia patinando, foram freqüentes os festivais de rock. Destaca-se a terceira edição do Rock in Rio. E em 2005, com a economia crescendo a míseros 2,5%, houve um show atrás do outro, de grandes nomes do rock mundial, incluindo Placebo, Strokes e Pearl Jam.
A explicação para 2005 pode estar na sobrevalorização cambial, que se por um lado emperrou o crescimento da economia, por outro barateou a vinda das bandas. Mas como explicar a vinda do Kiss e do Van Halen em 1983, ano em que além de uma grande recessão, houve a maxidesvalorização promovida por Delfim Netto?
A relação entre renda e shows pode ser nebulosa, difícil de ser explicada, mas esta história tem uma lição. Para chegar a conclusões sobre assuntos econômicos, o simples método dedutivo pode levar a enormes enganos. Por isso, torna-se importante a observação histórica.

domingo, fevereiro 19, 2006

A Teoria dos Jogos e as filas do U2

A Teoria dos Jogos, elaborada por John Nash e Von Neumann, é uma peça muito importante da microeconomia. Esta teoria discute como serão as ações de indivíduos, que ao interagirem com os outros, buscam estratégias racionais de maximização do bem-estar. Estas interações de indivíduos são conhecidas como "jogos", e em alguns "jogos", uma estratégia cooperativa é mais eficiente para maximizar o bem-estar de todos os jogadores do que uma estratégia competitiva. Um exemplo clássico deste tipo de jogo é o "dilema dos prisioneiros". Imaginem dois prisioneiros que são suspeitos de um crime e serão interrogados separadamente. Se um, ao mesmo tempo, confessa e denuncia o outro, e o outro nega, quem confessou será imediatamente solto e quem negou será condenado a 10 anos de prisão. Se os dois confessam, cada um pegará cinco anos. Se os dois negam, cada um pegará apenas dois anos. Percebe-se que neste caso, qualquer que seja a estratégia do prisioneiro B, é melhor para o prisioneiro A assumir a estratégia competitiva, que é a de confessar. Isto porque se B confessa, A pegará dez anos de prisão se negar e cinco se confessar. Se B nega, A pegará dois anos de prisão se negar também e zero se confessar. Porém, negar é o resultado final mais eficiente para amvbos, porque desta forma, pegarão dois anos ao invés de cinco. Mas os jogadores só adotarão esta estratégia se tiverem possibilidade de combinar antes e se não quebrarem o pacto.
Quando eu vi que três dias antes do show do U2 já tem gente acampando próximo ao Morumbi, percebi que há um dilema semelhante ao dos prisioneiros. A estratégia competitiva é chegar cedo para conseguir um lugar perto do palco. Quem chegar num horário X, terá sempre utilidade maior do que quem chegar em um horário X+1 minuto, porque além de conseguir um lugar melhor, terá enfrentado apenas um minuto a mais de desconforto na fila. Isto incentiva as pessoas quererem formar a fila cada vez mais cedo. Mas assim como no caso dos prisioneiros, a estratégia de formar fila cedo acaba sendo estúpida para todos de uma maneira geral, porque prolonga o tempo de exposição a sol e chuva, sem a vantagem do lugar mais perto, já que todo mundo tem esta estratégia. Portanto, as pessoas que estão acampadas estão agindo de forma irracional.
Quanto à fatídica fila dos ingressos, acontecia mais ou menos esse dilema, mas com um adicional: quem chegasse tarde não tinha o problema de ficar longe, e sim de não conseguir o ingresso. Isto estimulou as pessoas a acamparem nas portas das lojas do Pão de Açúcar. Cheguei às 9 da manhã daquele dia e saí de mãos abanando. Mas no meu caso, o problema não foi de irracionalidade, e sim de incompetência dos desorganizadores na venda dos ingressos (ou faz um sistema de ingressos já impressos em poucos pontos de venda ou um sistema informatizado com muitos pontos, nunca o meio termo, com sistema informatizado e poucos pontos, porque neste caso, houe filas enormes e demora na impressão). E também é claro, problemas de desonestidade das pessoas que furaram fila ou fizeram a vovó comprar.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Esclarecimento sobre o texto "a esquerda das Arábias"

Infelizmente não recebei nenhuma crítica ao meu artigo "Considerações sobre as esquerdas das Arábias" porque o público deste blog é bem pequeno, mas como minha esperança é aumentar o número de leitores, aqui vão alguns esclarecimentos, caso algumas pessoas tenham dúvidas.
O principal objetivo do meu artigo foi criticar a postura de alguns setores de esquerda que atenuam ou justificam ações de fundamentalistas islâmicos por causa do princípio "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". E também foram criticados alguns protestos fanáticos. Mas de forma alguma desejei defender o autor da charge sem graça ou do jornal dinamarquês. Seria absurdo retratar o confronto como sendo dos mocinhos que representam a liberdade de expressão ocidental e os bandidos sendo os muçulmanos atrasados. Sabe-se que as caricaturas não foram uma simples brincadeira irreverente. E o jornal dinamarquês não é o mártir do humor ingênuo e da liberdade de expressão, visto que se recusou a publicar charges de Jesus Cristo. Se houve um autocontrole para evitar ofensas a determinada religião, por que não fazer o mesmo com outra? Deve ser mencionado também que este jornal é abertamente de direita e faz campanha anti-imigração.
Eu seria hipócrita ao condenar qualquer tipo de humor com religiões porque quando eu participava da elaboração do zine "O Bobo", durante o colegial, teve um exemplar cuja capa era o desenho de Cristo crucificado sem o paninho. Pode ter sido uma brincadeira boba, mas não se compara com as charges de Maomé com explosivos, porque no meu zine, não foi associada uma religião a uma prática ruim.
De qualquer forma, serei sempre contra desrespeito a culturas e religiões e também a fanatismos.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Considerações sobre a "esquerda das arábias"

A maior parte da esquerda historicamente defendeu o secularismo, a separação entre Estado e religião, e com razão se opõem à direita cristã dos Estados Unidos, quando esta deseja impor o ensino do “design inteligente” nas escolas e os programas anti-AIDS com base na abstinência sexual. Normalmente, a esquerda também se opõe à tentativa do Vaticano de bloquear os programas de distribuição de preservativos. Também considera absurdas as tentativas de censurar filmes como “A última tentação de Cristo” e “Dogma” (este último é uma m..., mas nada justifica censura). E acha, com toda razão, ridículos os pastores que temem o “Harry Potter” como o “filme do demônio”. Portanto, torna-se estranho quando alguns esquerdistas tentam justificar ou atenuar a ação de vândalos fanáticos que atacaram embaixadas para protestar contra a caricatura de Maomé publicada em um jornal dinamarquês.
Considerar que os islâmicos podem reagir de forma estúpida a uma brincadeirinha e os cristãos não, é um desrespeito principalmente aos primeiros. É uma visão implícita de que os islâmicos podem fazer malcriações porque esteses seriam crianças, mas dos cristãos se considera um comportamento correto, porque estes são adultos. Quem partilha desta visão de satanização dos cartunistas e tolerância com os vândalos também sustenta a desculpa de que “os islâmicos têm uma cultura diferente da ocidental, eles valorizam mais o sagrado, e nós devemos respeitar culturas diferentes”. Até aí tudo bem, respeitemos as culturas diferentes desde que circunscritas ao próprio espaço. Não podemos exigir que todos os países do Oriente Médio tenham estados laicos, porque isto normalmente não faz parte da cultura dos povos que lá residem, mas que a proibição à profanação de Maomé fique naquele espaço. O que não deve ser admitido é a exigência para que países ocidentais também proibam charges com aquele tipo de conteúdo. Foi este o espírito dos manifestantes que protestavam contra os governos dos países europeus, ao invés de protestar apenas contra os jornais que publicaram tais desenhos. É com este espírito que o governo do Irã viola a soberania de todos os países do mundo ao premiar aquele que assassinar o escritor Salman Rushdie.
Religiões devem ser respeitadas e incitações a violência contra praticantes de determinada religião devem ser proibidas. Agora, embora possa ter algum mau gosto fazer humor com Moisés, Buda, Jesus Cristo ou Maomé, todos estes têm uma dimensão histórica além da religiosa, e portanto, nada impede que haja sátiras a estes seres humanos, principalmente porque foram muito influentes na história da humanidade.
Não é só neste caso que vemos demonstração de alguma simpatia de certos esquerdistas ao fundamentalismo islâmico. Muitos consideram erroneamente que como o inimigo em comum são os Estados Unidos, “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Não são raras as expressões de simpatia pelo regime iraniano ou pelos militantes da Al-Quaeda que atuam no Iraque, considerados de forma inadequada como uma resistência nacional popular ao invasor. A atitude de Jaques Chirac de proibir o véu islâmico nas escolas francesas foi vista por alguns esquerdistas das arábias como um ato de intolerância aos imigrantes. Os críticos do presidente francês se esqueceram de que os crucifixos também foram proibidos. A medida nada teve a ver com discriminação, e sim com tentativa de evitar segregação religiosa das crianças e adolescentes. Sobre a questão Israel X Palestina. A esquerda deve sim apoiar a luta do povo palestino por um Estado, mas não a partir de uma perspectiva religiosa, e respeitando o direito de existência do estado de Israel.
O fundamentalismo islâmico é um movimento anticapitalista, porém é movimento reacionário, que tem como fim uma sociedade pré-capitalista, e não uma sociedade pós-capitalista. Nisto, existe uma certa semelhança com o fascismo, que quando foi forte nos anso tritna e quarenta, foi combatido pela união do socialismo com o liberalismo. Embora a união não fosse apenas ideológica e sim geopolítica, a ideologia contou bastante. Socialismo e liberalismo descendem do Iluminismo, já o fascismo e o fundamentalismo islâmico são anti-iluministas, que visam um mundo pré-Revolução Francesa.
Estes esquerdistas das arábias, quando escutam alguma crítica ao Islã, dizem prontamente que isto é propaganda da mídia ocidental pró-EUA. É verdade que muitas pessoas no Ocidente têm uma visão distorcida e preconceituosa sobre o Oriente Médio, muitas vez com influência da mídia, portanto, é preciso desfazer alguns mitos.
Quanto mais anti-Ocidente se posicionar o regime do pais do Oriente Médio, mais fanático religioso será internamente e maior será a opressão sobre as mulheres.
O regime do Irã pré-1979 era livre e progressista.
Os sunitas são os moderados e os xiitas são os radicais.
Os muçulmanos são cortadores de clitóris.
Em relação ao primeiro, deve ser lembrado que a Arábia Saudita, com sua monarquia aliada aos Estados Unidos é um dos mais opressores regimes em termos de religião. Sobre o segundo, deve ser lembrado que o regime de Khomeini proibia as mulheres de usar o véu. Sobre o terceiro, deve ser lembrado que o Taleban e a Al-Quaeda são sunitas. E sobre o quarto, deve ser lembrado que a circuncisão feminia é uma prática tradicional de muitas tribos antigas, nada tendo a ver especificamente com o Islã.
Outro mito que existe além destes, é que todos os islâmicos são fanáticos, o que não é verdade. Mas alguns são realmente fanáticos, e portanto, não devem contar com a menor simpatia ou tolerância da esquerda.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Brasil de Flato recomenda - Filmes na TV


Meninas Malvadas (Mean Girls, EUA 2004)
Gênero: Comédia
Duração: 97 minutos
Direção: Mark Waters

Quem não observa atentamente este filme, pode pensar que é mais um filme adolescente norte-americano repleto de chavões e sem nada de novo a acrescentar. Mas quem está acostumado a ver esse tipo de filme e consegue captar as sutilezas percebe que Meninas Malvadas é um dos melhores filmes do gênero.
A começar pela analogia: o filme conta a história da adolescente Cady, interpretada pela boa atriz e atriz boa Lindsay Lohan, que vai para a escola pela primeira vez na vida aos dezesseis anos. Até esta idade, ela havia aprendido tudo com os pais, não porque eles eram religiosos fanáticos (o filme faz piadinha com isso), mas porque eles eram zoólogos em viagem a pesquisa pela África. Quando eles voltam aos Estados Unidos, a filha vai à escola pela primeira vez, e encontra uma verdadeira selva.
Lá, seus primeiros amigos são dois “perdedores”: uma gótica e um gay. Toma conhecimento das “poderosas”, que são três patricinhas insuportáveis, lideradas pela odiada e invejada Regina. Por ser bonita, Cady acaba sendo incorporada ao grupo das poderosas, e ao ser difamada por Regina, decide fingir manter a amizade, para junto com a amiga gótica, tentar destruir a reputação da líder poderosa.
Meninas Malvadas não poderia deixar de ser hilário, uma vez que foi escrito por Tina Fey, do engraçadíssimo programa Saturday Night Life. A roteirista ainda faz o papel de uma professora “cool”. O filme é repleto de piadas pastelão, como os vários atropelamentos de ônibus, e de caricaturas dos estereótipos adolescentes, como os nerds, os roqueiros, os gordos que comem muito na cantina, a japinha que tem um caso técnico de Educação Física e a mãe moderna que oferece um suco e uma camisinha ao ver sua filha dando. Os aspectos bobagentos não tiram o alto nível do filme, apenas acrescentam entretenimento a uma sátira bem feita tanto dos adolescentes atuais, quanto de filmes do gênero. E mesmo cheio de bobeiras e sarcasmos, ainda sobra espaço para lições de moral. De acordo com o fillme de Tina Fey, não é necessariamente verdadeira a história de que “meninas boas vão para o céu e meninas malvadas vão para onde querem”. Em muitas situações, as meninas malvadas vão para o inferno mesmo.
É possível ver muito bem em Meninas Malvadas como os estudantes de colegial competem para não apenas estar no topo, mas também para que seus círculos de amizades sejam formados apenas por pessoas do topo. Este filme não está tão distante da realidade de quem cursou o Ensino Médio recentemente em colégios particulares brasileiros, em que não existem babaquices como a rainha do baile da primavera, mas as formas de competição e segregação entre alunos são mais sutis, porém existentes.
Quando vai passar? Telecine Premiun 10/2 às 15h

O lado ruim de ter pinto grande

Muitos homens gostariam de ter pinto grande. Acredito que eles estão equivocados. Quem tem, sabe dos transtornos. Não sei se meu carvalho é gigantesco ou não, mas sei que tem tamanho acima da média. O leitor pode perguntar: “hmmm, como é que você sabe disso?”, ou então, “hmmm, quer dize que você se interessa por essas coisas?”. Em primeiro lugar, cheguei a esta conclusão de forma involuntária. Em segundo lugar, digo sem embaraços as fontes desta conclusão. Li em revista de consultório que a média brasileira era 12 centímetros. O meu é maior que isso. Quando vou mijar no banheiro público masculino, reparo sem intenção que na maioria das vezes os bilaus dos outros caras são menores do que o meu. E algumas garotas já disseram “que pintão!” na hora que tirei a cueca. Em terceiro lugar, nada contra homem que gosta de ver e sentir pinto, apenas não sou um deles, e não me considero nem superior, nem inferior por causa disso.
Agora que o leitor já tem algumas informações sobre a grandeza do meu lingüição, posso discutir os problemas deste dom proporcionado pelos genes paternos. O primeiro se refere à exposição da cabecinha. Como meu traseiro não é muito largo, não posso usar cuecas muito largas, senão elas ficam caindo. Mas como, portanto, minhas roupas íntimas não podem ser muito grandes, quando meu pau fica duro e levantado pra cima, a cabecinha fica pra fora, e o desconforto é enorme. Não é nada bom o contato direto entre a pontinha e a calça. A opção utilizada é guardar a vara dura virada de lado, para não se expor, mas aí surge outro problema. Uma vez torto, começa a se acostumar a crescer torto. O segundo problema está na exposição da ereção. Em certas ocasiões, quando o cacete começa a querer levantar, sua cabecinha começa a ficar nítica debaixo da roupa, e então. Isto pode se criar uma situação contrangedora para quem induziu o bastão a ficar apontado pra cima, ou então pode tornar as pessoas arrogantes.
Mas aí o leitor se indaga: por que estou escrevendo sobre o meu próprio pipi? Por que não estou escrevendo sobre política, economia, filosofia e artes? Resposta: isto é um gesto de humildade. Não pretendo enganar o leitor fingindo ter certezas em assuntos sobre os quais só tenho dúvidas. Não pretendo enganar a mim próprio com certezas cujo prazo de validade tem duração semelhante a de um frio fatiado. Não pretendo afirmar um “sim” ou um “não” em questões que exigem rios de tinta ou gigabytes para discussão, como por exemplo se os partidos e governos nacionais ainda tem papel de destaque na transformação social ou se a sociedade global só pode ser melhorada pela ação global de ONGs e movimentos sociais; se a globalização dos anos noventa é um fenômeno novo ou um mero aumento de tendências já existentes; se o filme Irreversível é fantástico ou se é um mero mau gosto, se o melhor esquema para a seleção é o 4-4-2 ou o 3-5-2. Se eu afirmo que tenho respostas prontas para estas perguntas, ou o bobo sou eu, porque acho que sei o que não sei, ou o bobo são os leitores, que acham que sei o que eu sei que eu não sei. Como ninguém é bobo, escrevo sobre os problemas relacionados ao pipi grande, porque é um assunto sobre o qual tenho certezas sinceras...

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Sobre o poder de falar merda

Para quem não me conhece, sou estudante de graduação de Ciências Econômicas na Unicamp e curso o último ano. Lembro-me muito bem de uma história que aconteceu comigo na faculdade que bem exemplifica o ato de falar merda.
O ano era 2004 e o mês era novembro. A chapa que eu apoiava (mas não participava diretamente) foi eleita para a diretoria do CAECO (o Centro Acadêmico dos estudantes do instituto), pondo fim a um ano de política de pão e circo que vigorava até então na entidade. Após a chapa tomar posse, fui escalado para integrar a comissão do grupo de cinema do CA, que se encarregaria de exibir filmes no auditório do Instituto. Junto comigo, mais duas pessoas, entre elas uma colega que já havia trabalhado junto comigo anteriormente neste tipo de atividade (e muito bem, por sinal). Embora já fosse novembro, optei por iniciar as atividades ainda naquele ano. Um aluno sugeriu a exibição do filme “Amor Estranho Amor” e até me ofereceu a fita, que ele tinha em casa. Para quem não sabe, “Amor Estranho Amor” é um filme mais ou menos pornochanchada produzido em 1982, com a então jovem atriz Maria da Graça Meneghel. Consultei os dois demais membros da comissão, inclusive essa colega. Nenhuma reprovação. Isto era um sexta-feira, pelo que eu lembro. Então, no fim de semana eu preparei os cartazes para serem divulgados em toda a Unicamp, não antes de ter mais uma vez consultado a comissão. Novamente, nenhuma reprovação. Na terça-feira, eu já estava com a confirmação da reserva do auditório para tal exibição, que seria realizada na quinta, e os cartazes de divulgação já estavam em todos os murais da universidade. Voltei para casa animado e eis que lá pelas nove da noite, quando cumpro meu ritual diário de verificar minha caixa de e-mail, me deparo com uma mensagem dessa colega discordando da exibição daquele gênero de filmes, dizendo que “vão achar que a gente está de brincadeira” e que aquilo iria “prejudicar a imagen do instituto”. Pensei: que merda! Como assim “prejudicar a imagem do instituto”? Fiquei imaginando um debate no programa Painel do Globo News, em que Belluzzo e Gustavo Franco discutem os rumos da economia brasileira. Eis que em dado momento, este último fala: “você não tem envergadura moral pra discordar de mim, você não é sério, isto porque os alunos de sua faculdade passam filme de sacanagem da Xuxa”. Ou então, um vestibulando discutindo com seu pai: “filho, você não vai prestar Economia na Unicamp”, “por que, papai? Porque ensina mal Matemática, porque não prepara direito pro mercado de trabalho?”, “não filhinho, é que os alunos passam filme de sacanagem da Xuxa”.
O tal e-mail foi um autêntico exemplo do que é falar merda. Pensei em responder à altura, mandando enfiar no meio daquele lugar, o teclado ou o mouse do computador utilizado para cagar na minha caixa de e-mail, mas optei por uma resposta bem educada. Fiz o certo. Devemos admitir que falar merda não é exclusivo de uma ou de outra pessoa. É um hábito generalizado na civilazação moderna. E não só na civilização moderna. Aristóteles dizia que certos insetos haviam sido espontaneamente gerados pelo orvalho que caiu sobre as plantas. Mas é na civilização moderna que surgiram os mais sofisticados meios de comunicação para difundir as merdas, meios estes que agem como grandes penicos virtuais. Pelé disse uma vez no início dos anos noventa que ainda no século XX, uma seleção africana seria campeã do mundo, isto faltando apenas duas Copas. Carla Perez disse uma vez que gostaria de ir para a Europa, principalmente para Nova York. Fernando Henrique Cardoso disse em 1998 que na Copa daquele ano o Brasil deveria ter como adversários mais fortes seus vizinhos Argentina e Uruguai. O problema era que o Uruguai não disputava a Copa daquele ano. José Serra afirmou que a gravidez da Xuxa (mais uma vez ela neste artigo) incentivaria a gravidez de adolescentes. George W. Bush disse que a maioria das importações dos Estados Unidos vinha de fora do país. Lula disse que sua mãe havia nascido analfabeta. Diogo Mainardi disse que o ano de 2003 foi o de menor crescimento na história do Brasil (como se 0,5% fosse menor do que os -4% de 1990).
Aí a gente fica pensando: seria um demérito dessas pessoas citadas a quantidade de merda que falam? Não, na verdade isto é um mérito. Se não tivessem outra habilidade especial, suas merdas jamais seriam difundidas, ou então, seriam esquecidas. Ter o marrom da merda gravada no pano branco da história é sinal de poder, poder conquistado por alguma habilidade especial. Pelé foi o maior jogador de futebol de todos os tempos. Carla Perez atraía muitos olhos devido ao seu generoso traseiro. Fernando Henrique Cardoso foi um conhecido sociólogo, político e ainda por cima, eleito presidente do Brasil duas vezes. José Serra foi outro político conhecido, além de ter sido nomeado para Ministro da Saúde. George W. Bush pode não ser o maior exemplo de inteligência e cultura, mas eve a habilidade de fazer com que o estadunidense médio se identificasse com ele, e portanto, votasse nele. Lula comandou greves durante o regime militar, foi um dos principais fundadores do mais importante partido do Brasil e se elegeu presidente com 52 milhões de votos. Diogo Mainardi tem a habilidade de divulgar de forma pasteurizada as opiniões políticas de seu patrão. Se não fossem os méritos citados, a mídia não teria fornecido penico para tais merdas.
Agora voltando a falar dessa colega, houve outra merda, dita também por e-mail, dessa vez, no início de 2005. Naquele tempo, a chapa do Centro Acadêmico estava organizando a chopada de recepção dos calouros. Uma reunião com os alunos decidiu que o evento seria realizado em um pequeno bar alternativo localizado perto da Unicamp, e que seria animado por uma banda de pagode. No dia seguinte à reunião, postei uma mensagem no Orkut, na comunidade Economia Unicamp, pedindo a revisão do resultado da reunião, devido à incompatibilidade das decisões (era pouco provável que o dono do bar aceitasse uma banda de pagode, e prevalescendo o bom senso, acabou não aceitando mesmo). Teve gente que considerou minha atitude um pouco antidemocrática, pois o resultado da reunião havia sido obtido por decisão democrática. Até aí tudo bem, são opiniões que respeito. Na verdade, considerei posteriormente que foi completamente irrelevante a discussão que introduzi no Orkut. Bom, mas aí um certo dia eu abro minha caixa de e-mail, dessa vez pela manhã, e eis que eu vejo uma mensagem dessa minha colega, dizendo que o que eu fiz “queimaria o filme da gestão”. Fiquei imaginando os alunos da faculdade dizendo “aquele chapa é horrível, tem gente séria lá dentro, mas tem um cara que não faz parte efetivamente da chapa que postou uma mensagem no Orkut e portanto a chapa é horrível”. Essa menina havia perdido outra oportunidade não de ficar de boca fechada, mas de braço engessado, porque ambas as merdas haviam sido lançadas via teclado. Ao contrário da ocasião anterior, não optei nem pela resposta bem educada, nem pela resposta mal educada, mas por simplesmente ignorar.
Mas se eu voltei a lembrar disso e a merda ainda está gravada no meu cérebro, minha colega tem algum poder decorrente de alguma habilidade especial, que não cabe aqui discutir. Como ela foi convidada a integrar a chapa, deve ter alguma habilidade, como eu ainda tenho alguma simpatia por ela, deve ter mesmo algum poder. Mas tal poder é muito menos relevante do que o das outras pessoas citadas. Uma vez que a merda repercutiu muito menos.
De qualquer forma, espero que com este blog, que acabo de inaugurar, eu venha a ter o poder de gravar para sempre na história da humanidade as merdas que eu escrevo. Desejo um grande sucesso pra mim mesmo!
E mais importante que isso, espero gravar na história da humanidade as coisas sérias que escrevo. Pretendo mudar o mundo com o blog. Brincadeira, estou eagerando.

Sobre o blog

Isto é uma versão virtual da revista Brasil de Flato, cujos 4 números impressos eu publiquei ao longo de 2004 e 2005. O Brasil de Flato surgiu de um blog, e agora, volto as origens, porém com novíssima versão e novíssimo visual. Considerei que o papel, embora proporcione uma qualidade artística muito superior, dá trampo demais e alcança gente de menos. Optei pela simplicidade do blog. Muito provavelmente, não haverá mais Brasil de Flato em papel.

Porque a Veja é melhor do que a Carta Capital

Texto escrito por Stephen Krugman

Os leitores da revista Carta Capital costumam se achar superiores em relação aos leitores da Veja. Os primeiros seriam mais cultos, elegantes, chiques, inteligentes e refinados; os segundos seriam grosseiros, incultos e trogloditas. Mas uma comparação honesta e isenta de chavões esquerdistas entre as duas revistas e os dois perfis de leitores revela a infinita superioridade de qualidade da Veja e de nível moral de seus leitores.
É verdade que os textos da Carta Capital são mais complexos e pretensamente mais profundos. Requerem um nível maior de erudição para seu entendimento. Mas isto é uma clara demonstração da grandeza moral dos leitores da Veja, oriundos da classe média decente, da classe que realmente trabalha neste país. O típico leitor da Veja é um pai de família honesto, sujeito muito ocupado, que labuta arduamente a semana toda para criar descentemente a mulher e os filhos, e no domingo, vai à Igreja, confessa e comunga, e além disso, dedica seu tempo à família. Portanto, não sobra tempo para leituras complexas, para a profunda reflexão de todos os assuntos. É por isso que os textos precisam ser mastigados e escritos de maneira simples, para serem compreendidos por pessoas trabalhadeiras e decentes. Isto serve de pretexto de chacota praticada por leitores da Carta Capital, que são pessoas fúteis e desocupadas, e portanto, possuem tempo de sobra para leituras complexas e fúteis. Os sete reais necessários para comprar a revista Veja provém do suor do trabalho honesto, em contrapartida, os sete reais necessários para comprar a revista Carta Capital provém da mesada do papai que lê Veja, ou do salário de professor universitário pago com o imposto suado pago por quem realmente trabalha.
O fato dos textos da Carta Capital terem mais rococó do que os da Veja não indicam superioridade da primeira revista em relação à segunda. Uma revista, que de forma simplória e facilmente compreensível, defende idéias corretas, como a economia de mercado, que trouxe sempre progresso e liberdade, é infinitamente superior à uma revista que de forma rebuscada defende idéias erradas, como o comunismo, que matou cem milhões de pessoas no século passado. Possui muito mais qualidades morais a revista com colunistas de linguagem pouco rebuscada que dizem a verdade do que aquela co colunistas bem-pensantes que mentem de forma discarada. Tales Alvarenga pode não ser o maior exemplo de sofisticação intelectual, mas consegue passar com linguagem facilmente compreensível verdades arquievidentes como a de que a liberdade econômica é a forma mais eficiente de se criar riqueza e que esquerdistas não são pessoas bem intencionadas que se preocupam com o próximo, são é desocupados, nocivos e antidemocráticos. Luís Gonzaga Belluzzo é um sujeito erudito e possui conhecimentos em várias áreas, mas utiliza estas vantagens para o Mal. Escreve textos cheios de rococó com o objetivo único e exclusivo de defender idéias ultrapassadas como o desenvolvimentismo e a intervenção do Estado na economia, coisas que deveriam estar na lata de lixo da história. Utilizar-se de palavras rebuscadas para defender que o Estado sufoque a liberdade das pessoas não é prática do debate de idéias, é crime contra a boa fé das pessoas.
A Veja é muitas vezes acusada de ser uma revista mentirosa, mas os verdadeiros mentirosos são os que fazem tal acusação. Não existem mentiras na revista, o que acontece às vezes é a necessidade de passar uma informação verdadeira de forma compreensível ao leitor típico, e para isso, deixar um pouco de lado o completo rigor científico. A reportagem sobre o referendo do desarmamento é um bom exemplo. Os bem-pensantes bradaram contra a Veja devido aquela ocasião em que a revista cumpriu sua obrigação de esclarecer ao público a importância de votar “Não” e evitar o desarmamento dos cidadãos de bem. Os intelectuais enrageé consideraram sensacionalismo o paralelo com desarmamento chinês de 1935, com o posterior genocídio praticado por Mao-Tsé Tung e o referendo atual. Ora, foi o jeito encontrado pela revista para fazer o cidadão de bem típico de classe média entender os problemas da arbritrariedade do Estado na vida das pessoas. Os intelctuais esquerdistas leitores da Carta Capital acusam a Veja de ser uma revista panfletária e intransigente, mas isto não é defeito, e sim qualidades da Veja. É preciso ser panfletário como forma de defesa às freqüentemes meios de desinformação utilizados por esquerdistas, e é preciso ser intransigente contra os inimigos da liberdade. Se não fosse a firme e valente atitude da revista em relação à tentativa de desarmamento, os cidadãos de bem já estariam indefesos e por isso, teriam suas casas facilmente invadidas por ladrões e por sem-terra.
Os leitores bem-pensantes da Carta Capital se acham superiores aos leitores da Veja também devido à comparação das páginas culturais de cada revista. A Carta Capital costuma elogiar os filmes europeus cabeça pedantes repletos de cenas de viadagens, e a Veja prefere os filmes americanos cheios de vibração e de qualidade técnica . É mais uma prova da superioridade moral da Veja. Os filmes americanos exigem menos do cérebro do espectador, mas têm o mérito de defender de forma simples as idéias corretas, de que existe o Bem e o Mal, e o primeiro deve prevalecer sobre o segundo. Já os filmes europeus, usam a suposta qualidade de “filme cabeça” para defender o relativismo moral, a inversão de valores, o homossexualismo e a destruição das bases da civilização judaico-cristã. Não é à toa que os Estados Unidos são o que restam de descência neste mundo.
Intelectuais enrageé ainda satirizam os testes “você é?” da Veja e também a seção Guia. Estas partes da revista existem porque seus leitores são disciplinados trabalhadores que não raramente alcançam o sucesso financeiro. Para desfrutar desta situação, é preciso saber um pouco de etiqueta, vestuários e vinhos. Como o leitor típico é muito atarefado e não tem tempo para conhecer detalhadamente o que é chique, a revista precisa explicar de forma mastigada como se comportar bem no mundo dos bem sucedidos. É por isso que a Veja é um verdadeiro mestre da classe média decente brasileira, a que trabalha e produz riqueza. Um guia político, cultural, comportamenteal e espiritual. Sem esse brilhante veículo de comunição, a classe média teria sido facilmente sucumbida pelo esquerdismo chique da revolução cultural gramsciana, e o país estaria à beira do caos.
Portanto, leitor, não se iluda com o rococó da Carta Capital. A Veja é infinitamente superior. Muito mais importante dizer de forma simples e direta que “dois mais dois são quatro e quem discorda é baderneiro e delinqüente”, do que dizer que “segundo Marx, a adição de duas unidades a outras duas unidades proporciona um resultado final de cinco”.

Stephen Krugman é astrólogo. Vocês vão ter que acreditar nele.