A estranha relação entre o rock e a economia
Queen no Morumbi em 1981: megashow em plena crise
Quando é que existem shows internacionais com mais freqüência em países periféricos como o Brasil? A resposta convencional seria a de que os shows aconteceriam quando as pessoas têm mais dinheiro para pagar caro pelo ingresso, ou seja, em fases de expansão da economia. Mas a História mostra uma resposta completamente diferente.
O primeiro show internacional de rock no Brasil foi de Alice Cooper em 1974, quando o milagre já estava terminando, e depois, teve o Genesis em 1977, quando o milagre já tinha completamente termidado. Os shows eram raros nos anos setenta, quando a economia crescia a altas taxas. Já durante a década de oitenta, quando o Brasil passou por uma de suas maiores crises, multiplicaram os megashows internacionais. Em 1980, o Frank Sinatra tocou para um Maracanã lotado. Em 1981, com o PIB encolhendo 4%, o Queen fez dois shows no Morumbi. Em 1983, último ano da recessão provocada pela crise da dívida, quando o PIB encolheu mais 3%, o Van Halen e o Kiss passaram por aqui, sendo esta última responsável por lotar o Maracanã, o Morumbi e o Mineirão. Os shows internacionais ficaram mais numerosos ainda a partir do Rock in Rio de 1985, festival que trouxe medalhões como James Taylor, Queen e Rod Stewart, e bandas metaleiras no auge, ocmo Iron Maiden e ACDC. Naquele ano, o Brasil passou por uma elevada taxa de crescimento, na casa dos 7,5%, porém tal crescimento se deveu às exportações e não foi acompanhado de significativo aumento do poder de compra da população. Em 1987, depois do Plano Cruzado ter virado água, o Sting passou por aqui, lotando o Maracanã e em 1988, teve a primeira edição do Hollywood Rock.
Em 1990 o Collor tomou posse, teve aquele plano maluco, a economia encolheu 4%, mas mesmo assim, o Paul McArtney passou por aqui. No ano seguinte, ainda em meio à crise, teve a segunda edição do Rock in Rio. Em 1992, mais recessão, porém, em janeiro de 1993, grandes nomes do grunge, como Nirvana e Alice in Chains, vieram para mais uma edição do Hollywood Rock (e ainda teve a história da suposta presença de Dave Grohl em um jogo entre Ponte e Guarani).
O auge do Plano Real, que durou de 1994 a 1997, que teve economia crescendo e câmbio valorizado, não aumentou a freqüência dos shows internacionais. Em 1998, logo após os efeitos da crise asiática, veio o U2 com seu Popmart. Durante o início da década seguinte, com a economia patinando, foram freqüentes os festivais de rock. Destaca-se a terceira edição do Rock in Rio. E em 2005, com a economia crescendo a míseros 2,5%, houve um show atrás do outro, de grandes nomes do rock mundial, incluindo Placebo, Strokes e Pearl Jam.
A explicação para 2005 pode estar na sobrevalorização cambial, que se por um lado emperrou o crescimento da economia, por outro barateou a vinda das bandas. Mas como explicar a vinda do Kiss e do Van Halen em 1983, ano em que além de uma grande recessão, houve a maxidesvalorização promovida por Delfim Netto?
A relação entre renda e shows pode ser nebulosa, difícil de ser explicada, mas esta história tem uma lição. Para chegar a conclusões sobre assuntos econômicos, o simples método dedutivo pode levar a enormes enganos. Por isso, torna-se importante a observação histórica.
1 Comments:
Gostei mto desse texto, Brito. De fato, precisamos pensar no porquê da vinda desses megastars para um país como o Brasil - e, de fato, é uma coisa que eu sempre me pego pensando: "Por que o Brasil e não a China ou a Arábia Saudita?"
Mas eu não consegui entender bem o porquê de você ter colocado como referência os tais "fatos históricos", de maneira questionativa-conclusiva. Na verdade, penso que este texto (até porque ele está muito bom) não devia terminar ali, você devia continuá-lo, trabalhando essa hipótese dos fatos históricos que colocou na conclusão.
Ora, que tipos de fatos históricos envolvem esses investimentos? Será a ascensão de Lula ao poder? Bem, se sim, então talvez o buraco seja mais embaixo, onde o momento histórico atinge o lucro por meio da imagem: a publicidade que envolvem esses ícones da cultura pop mundial.
Assim, talvez não sejam bem os fatos históricos que estejam associados a esses investimentos, mas a propaganda e a publicidade que os envolvem de modo minucioso. Cabe a nós, portanto, entender esses mecanismos e entender por que, publicitariamente, optam pelo Brasil e não pela China ou pela Arábia Saudita.
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