A Arábia Saudita é aqui
Em Riad, na Arábia Saudita, a temperatura costuma passar dos 40 graus, mas as mulheres andam em público sempre cobertas por panos, devido às imposições religiosas, de Alá.
Faz calor em Campinas desde fins de agosto. As máximas costumam beirar os 30 graus. Mas cadê as pernas femininas? Ainda escondidas por trás dos jeans. Por enquanto, saias são utilizadas apenas justamente por religiosas, as evangélicas neopetencostais, vulgarmente conhecidas como crentes. Tais saias costumam ser menos sexy do que as burcas das muçulmanas. As demais moças costumam andar com seus inseperáveis jeans, talvez devido também a motivos religiosos: consideram pecado mostrar um pouquinho de celulites, varizes, vasos, gorduras ou simplesmente pele muito branca. Muitas preferem tirar a saia, o vestidinho ou o short do armário somente depois de academia ou de sol. Isto é triste, pois pernas não precisa de perfeição total para serem sexy. É claro que há exceções, mas muitas vezes vi meninas que andavam diariamente de calça comprida, e no dia que decidiram mudar um pouco a rotina, revelaram que nenhum defeito havia em seus membros inferiores.
Nos meus tempos de faculdade (2002-2006), as salas costumavam ter 35 alunos. Com uma proporção 60:40, havia normalmente 14 meninas por sala. Em cinco anos de curso, não me lembro de um único dia sequer ter visto mais de 5 meninas em uma mesma sala que não estivessem usando calça comprida. Mesmo nos meses letivos mais quentes, como março, abril e novembro. Digo 5 incluindo ainda aquela com a maldita bermuda. Nos meses um pouquinho mais frios, quando as máximas atingiam "apenas" 25, o número de meninas sem calça costumava ser zero. Enquanto isso, a maioria dos rapazes ainda insistiam no uso da bermuda, mesmo em temperaturas moderadas. Tento imaginar minhas colegas de sala naqueles filmes de anos 40, que mostram mulheres de casacos longos e saias que terminam um pouco depois do joelho. Estariam todas mudas, de tanto bater o queixo de frio.
O século XX foi paradoxal. Enquanto encurtou as saias das mulheres, difundiu o uso da calça comprida para elas. O encurtamento das saias não foi um processo linear. As barras subiram e desceram, mas sempre com tendência para cima. Nos anos 20, as saias subiram para quase a altura do joelho. Em 1929, caíram como os preços das ações. Perto do início da Segunda Guerra Mundial, subiram de novo. Nos anos 50, desceram um pouquinho. Nos anos 60 subiram de vez. O ano 1965 foi o símbolo do paradoxo: foi o ano da minissaia e o ano em que a produção européía de calças femininas superou a de saias. No início, não se tratava de um paradoxo, porque assim como uma saia curta, a calça feminina era vista como uma coisa sexy. Hoje não é mais.
Apesar do título do texto, que escolhi para ser chamativo, o paralelo ideal que deve ser feito não é com a Arábia Saudita, e sim com a Roma Antiga. Lá, os homens usavam saia curta e as mulheres, saia comprida. Hoje, entre os jovens, os homens usam calça curta e as mulheres calça comprida.
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