Como são produzidos os debates de disco riscado
Um debate fica sem solução, com cada um dos lados repetindo chavões que não respondem os argumentos do adversário, quanto todos os participantes decidem enxergar da realidade apenas os fragmentos que os interessam. Neste caso, os dois lados podem ser antagônicos e estarem ambos certos em sua interpretação parcial da realidade.
Um bom exemplo disso ocorre quando um casal vai para um restaurante, o homem come apenas as carnes, e a mulher come apenas as saladas. Se as carnes estão muito boas e as saladas, muito ruins, o homem vai falar que o restaurante é bom e a mulher vai falar que é ruim. Embora tenham opiniões divergentes sobre um mesmo objeto, neste caso, o restaurante, é muito difícil um refutar o outro, pois ambos estão corretíssimos em suas interpretações das partes que lhes interessam, neste caso, a carne para um e a salada para a outra. A discussão entre ambos seria um disco riscado: a carne estava boa, mas a salada estava ruim, mas a carne estava boa...
No debate político temos alguns exemplos clássicos. Um deles se refere à comparação entre os países da Ásia com os da América Latina. A realidade é: os primeiros apresentam pesada intervenção estatal (com exceção de Hong Kong) no sentido de promover uma indústria competitiva com alto conteúdo tecnológico e manter o câmbio estável, mas a maioria dos países asiáticos não apresenta grande estrutura de proteção social. Os países asiáticos apresentaram elevadas taxas de crescimento nos últimos anos. Os segundos tentaram se industrializar a partir dos anos 30 através da substituição de importações, uns foram bem sucedidos (Brasil, México), outros não. Governos populistas contruíram uma razoável estrutura de proteção social. Após 1989, os países latino-americanos adotaram políticas neoliberais, e no caso do Brasil, foi amplicada a rede de proteção social como forma de compensação. Nos últimos anos, a América Latina apresentou baixas taxas de crescimento. Como funciona este debate de disco riscado? Simples: a esquerda atribui as altas taxas asiáticas de crescimento à elevada intervenção estatal e as baixas taxas latino-americanas de crescimento à adesão do continente ao Consenso de Washington. Enquanto isso, a direita atribui o alto crescimento asiático à inexistência de uma grande rede de proteção social e ao direcionamento das economias para a exportação, e o baixo crescimento latino-americano à existência de maior proteção social e à industrialização por substituição de importações.
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