Brasil de Flato, o blog

domingo, agosto 26, 2007

Provocação aos monetaristas

Todos os economistas conhecem a fórmula MV=PY (M=quantidade de moeda, V=velocidade, P=nível de preços, Y=produto). Para a Teoria Quantitativa da Moeda (base para os monetaristas) V e Y são constantes. V é determinado por hábitos dos indivíduos e não tende a mudar muito bruscamente, e Y de longo prazo é determinado pelo capital, trabalho e tecnologia, sem relação com a quantidade de moeda. M é determinada pela autoridade monetária (normalmente o Banco Central) e com V constante, uma variação de M tem efeito sobre Y no curto prazo e no longo prazo, apenas em P.
Normalmente discute-se os impactos de um aumento de M.
Pergunto o oposto: de acordo com a TQM, uma redução de M reduziria primeiro Y, mas depois dos agentes ajustarem suas expectativas, o efeito de longo prazo seria apenas a redução de P. Quer dizer que se o BC cortasse a quantidade de moeda até chegar no zero, o nível de preços seria zero? Se o BC fizesse isso, todos os bens e serviços seriam gratuitos?

Obs. Postei isso na comunidade "Economia Brasileira". Aguardo respostas.

sexta-feira, agosto 10, 2007

40 anos: The piper at the gates of dawn

Neste ano, são muito bem lembrados os 40 anos do Sgt Peppers. Mas poucas referências foram feitas aos 40 anos de outra obra produzida nos estúdios da Abbey Road: The Piper at the gates of Dawn, o primeiro álbum do Pink Floyd lançado em 5 de agosto de 1967. É um álbum conceito, assim como o Sgt Peppers. O álbum do Pink Floyd seria algo como um irmão mais novo desconhecido do álbum dos Beatles.
O Piper não fez muito sucesso quando foi lançado. O Pink Floyd começou a ganhar mais visibilidade apenas a partir de 1971, com o Meddle, para arrebentar em 1973 com o Dark Side of the Moon e se manter no auge com Wish You Were Here, Animals e The Wall. The Piper at the Gates of Dawn, por ser basicamente inteiro do Syd Barret, que saiu da banda logo depois, é bem diferente dos sucessos do Pink Floyd dos anos 70. É do estilo psicodélico, tem músicas mais curtas, e algumas delas, como Lucifer Sam, são mais "animadinhas" do que normalmente é conhecido o Pink Floyd pelas suas obras posteriores. A única faixa longa, repleta de solos longos, é a instrumental Interstellar Overdrive. As demais são cantadas, quase todas por Syd, e tratam de astros e contos de fada. A única canção que Syd Barret não compôs foi Take up the stethoscope and walk, de Roger Waters. Foi a mais fraquinha (ou a menos boa) do álbum, assemelhando-se com um rockzinho indie atual. A única faixa conhecida dos não-conhecedores profundos de Pink Floyd é Astronomy Domine (a primeira do álbum) devido ao fato dela ter sido apresentada no Pulse.
Apesar da fase de maior sucesso do Pink Floyd ter sido os seis álbuns lançados nos anos 70, considero o The piper at the gates of dawn o terceiro melhor álbum da história da banda, atrás obviamente de Dark Side of the Moon e The Wall. E para mim, a distância do primeiro para o segundo é maior que a do segundo para o terceiro.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Lições de economia com o professor Arnaldo Jabor

O ex-cineasta Arnaldo Jabor encerrou seu mais recente pronunciamento na rádio CBN (http://cbn.globoradio.globo.com/cbn/comentarios/arnaldojabor.asp) lamentando o fato da economia brasileira estar "patinando no maior período de prosperidade global dos últimos 70 anos".
Quando se diz que "tal variável está em seu maior nível dos últimos X anos", fica subentendido que uma determinada variável é maior que em todos os períodos posteriores a X anos antes, e que não era maior do que há exatos X anos.
Analisemos em detalhe a colocação de Arnaldo Jabor. Quando ele diz que o mundo está em seu maior período de prosperidade dos últimos 70 anos (lembrando que 2007-70=1937), ele quis dizer que:
1. Em nenhum momento pós-1937 o mundo passou por uma fase de prosperidade maior que nos anos próximos a 2007.
2. Em 1937, o mundo estava em uma fase de prosperidade maior que a atual.
1. Discutível, pois as taxas de crescimento da economia global entre 1971-1973 eram próximas da atual.
Mas até aí tudo bem. De qualquer forma, se AJ tivesse dito "maior prosperidade dos últimos 30 anos", estaria indiscutivelmente correto.
2. Que eu saiba, em 1937 o mundo ainda estava se recuperando da Grande Depressão. Não sabia de prosperidade desse período. Não precisa ser expert em economia pra saber isso, nem ter uma tabela com números exatos. A Grande Depressão é um fato de notório conhecimento.
Errar é humano. Alguns erros são perdoáveis. Mas quem comete um erro desses mostra-se um grande leitor de orelha de livros.
No resto do discurso, AJ colocou-se entre os mais instruídos, ao dizer que o apoio ao Lula vem dos menos instruídos. Se uma pessoa dessas está entre os mais instruídos, é possível imaginar quem está entre os menos.