Galvão Bueno, o verdadeiro herói brasileiro
Brecht disse "triste o país que precisa de heróis". Uma frase sábia, obviamente, mas há uma frase ainda mais sábia, muito mais antiga, de autor desconhecido, que consiste em dizer: toda regra tem uma excessão. E a excessão da regra de Brecht mora nas terras que os portugueses chamavam de Província de Santa Cruz.
Enquanto outras nações exaltam seus passados cheio de tiros e sangue, o Brasil é abençoado por ser uma nação de índole eternamente pacífica, nação dotada de imensas belezas naturais, como as prais, as florestas e os passarinhos, além de ter um povo alegre, hospitaleiro e cheio de manhas com a bola e com o pandeiro. Nossos povo não se orgulha de guerras do passado, uma vez que guerras provocam dor e sofrimento. Nos orgulhamos de nossas conquistas nos campos e nas pistas, onde mostramos nossa habilidade, nossa inteligência e nossa criatividade.
Mesmo devendo agradecê-los por seus grandes feitos, a nação precisa reconhecer que os maiores heróis não são Nelson Piquet, Ayrton Senna, Romário e Ronaldo. Porque se fossem apenas eles, suas conquistas não teriam significado para a nação como um todo, não haveria o efeito mobilizador, a criação do orgulho de ser brasileiro, de pertencer a uma nação miscigenada hospitaleira livre de qualquer preconceito. Pilotos e jogadores teriam relevância apenas para eles mesmo e suas respectivas famílias se não fosse a garganta de Galvão Bueno, este sim, o verdadeiro herói nacional. Assim como Adolf Hitler, Benito Mussolini e Fidel Castro, Galvão Bueno mobiliza uma nação inteira com o poder da voz, mas ao contrário dos outros três, o locutor faz isso para o Bem, e não para o Mal. Galvão Bueno faz o povo vibrar com as vitórias e chorar com as derrotas, mas mesmo com o Brasil perdendo, Galvão Bueno tem o poder de manter o povo brasileiro de cabeça erguida, mostrando que derrotas são passageiras, mas que o Brasil foi, é e sempre será uma nação gloriosa. Grande parte do povo sofrido, que poderia seguir o caminho das drogas e da criminalidade, desiste de trilhar o caminho do Mal, quando assiste a uma partida de futebol e aprende com Galvão Bueno o quanto é gratificante morar em um país cinco vezes campeão do mundo.
Galvão Bueno ensina não apenas o patriotismo cívico, como também a fazer um bom uso, sem xenofobia, sem ódio ao outro. É por isso que enquanto o racismo tanto prejudica o futebol europeu, nada disso ocorre no Brasil. Aqui, os brancos, negros, pardos, índios e asiáticos convivem alegremente e com harmonia. Por que para Galvão Bueno, o esporte deve ser um meio para a paz entre os povos, o progresso da humanidade e o fim da maldade no mundo.
Além de tudo isso, devemos destacar ainda que contrariando a visão de boa parcela da intelectualidade, de que o futebol está associado à baixa instrução, Galvão Bueno é um homem dotado de imensa erudição e transforma os jogos da Copa do Mundo e as corridas de Fórmula 1 em verdadeiras aulas de conhecimentos gerais, em que o telespectador aprende cultura e costumes do país que sedia o evento, dos países dos competidores, do significado dos gritos de guerra das torcidas estrangeiras. Isto mostra o quanto Galvão Bueno considera importante a educação para a edificação da nação.
O Brasil seria uma nação triste, pararaseando mais uma vez Brecht, se tivesse apenas heróis tão impopulares como Dom Pedro I, Duque de Caxias e Marechal Deodoro da Fonseca. Mas nossa alegria é ter um herói nacional da magnitude de Galvão Bueno.