Brasil de Flato, o blog

sexta-feira, junho 29, 2007

Alerta aos roqueiros

Dólar barato pode ajudar trazer mais bandas cool para fazer show por aqui. Mas a valorização do real não é apenas um motivo de alegria para o presente, mas também de preocupação para o futuro. Com a facilidade de importações e a dificuldade de exportações quebrando nossas indústrias, viraremos em breve um fazendão. Aí só vamos encontrar gente falando de dupla caipira.
Ah, claro, por falar em caipira, o Creedence Clearwater Incompleto passa a aumentar a freqüencia de turnês por nossas terras. Mas para isso, dólar barato é desnecessário. Eles vêm até com dólar a cinco reais.

terça-feira, junho 26, 2007

Verifique sua posição política em menos de 1 minuto

Que Political Compass que nada! (http://www.politicalcompass.org/)
Aquilo dá muito trabalho para preencher.
Este teste, por sua vez, ajuda você verificar sua posição política com apenas três simples perguntas.

1) Você avalia Getúlio Vargas de forma:
P) Positiva
N) Negativa

2) Você avalia Fidel Castro de forma:
P) Positiva
N) Negativa

3) Você avalia Lula de forma:
P) Positiva
N) Negativa


Confira seu resultado:
1N-2N-3N: Liberal, conservador ou anarquista
1N-2N-3P: Social liberal
1N-2P-3N: Comunista revolucionário
1P-2N-3N: Nacionalista de direita
1N-2P-3P: Socialista
1P-2N-3P: Social democrata
1P-2P-3N: Estatólatra
1P-2P-3P: Nacionalista de esquerda


Obs: Este teste foi feito para ser simples, por isso não tem a opção "neutra", pois caso tivesse, haveria 27 ao invés de 8 combinações. Mas se para uma das perguntas você acha melhor responder "neutra", ao invés de "positiva" ou "negativa", considere-se um intermediário entre duas posições políticas possíveis com as outras duas respostas.

quinta-feira, junho 21, 2007

Lamentável

Vi no blog do Luís Nassif, que das 2050 salas de cinema presentes no Brasil,
705 estão passando Shrek 3
582 Piratas do Caribe 3
325 Homem Aranha 3
438 outros

Cadê "Das Leben der Anderen" (A Vida dos Outros)? E o Good German (traduzido estupidamente para O Segredo de Berlim)? E o tão anunciado em trailers "Correndo com Tesouras?"

segunda-feira, junho 18, 2007

Fatos sobre o liberal-ortodoxo-pósmoderno

> Não sabe diferenciar um pé de milho e um pé de cana, mas acha que o Brasil é um país de vocação agrícola.
> Se considera um Messias, uma ilha de modernidade e sabedoria em um mar de atraso e ignorância que é o Brasil. Vê o Brasil, como um país dominado pelo “esquerdismo imbecilizante tupiniquim e jeca-tatu”. Considera como missão divina levar a Palavra da Salvação, ou seja, o liberalismo, através de blogs e fóruns de discussão de internet.
> Repete que câmbio e juros não tem nada a ver com crescimento, que para crescer o Brasil precisa das "reformas". Mas não sabe descrever o conteúdo das "reformas necessárias".
> Para ele, pessoas inteligentes no Brasil seriam apenas o Nelson Rodrigues, o Roberto Campos, o Mário Henrique Simonsen, o Paulo Francis e o Arnaldo Jabor. Tem vergonha de citar o Diogo Mainardi e o Reinaldo Azevedo, embora use freqüentemente os argumentos presentes nos textos destes dois articulistas.
> Considera o período do nacional-desenvolvimentismo como 50 anos de atraso. Progresso mesmo era com Campos Salles, Rodrigues Alves, Artur Bernardes e Washington Luís.
> Chora até hoje a derrota de 1932.
> Foi esquerdista em um passado recente, mas encontrou o liberalismo, assim como um neopetencostal encontrou Jesus.
> Defende a liberdade de escolha do consumidor, mas é contra a rotulação dos trangênicos.
> Acha que o Estado é ineficiente, mas presta concurso público quando percebe que ser contratado por uma empresa privada está difícil.
> Não se considera de direita porque é agnóstico, favorável ao casamento gay e ainda por cima, vê Sex and the City. Para ele, isto exclui a possibilidade de ser de direita. Além, esquerda e direita são atraso. E mais: esta dicotomia também estaria atrasada.
> Considera como os dois melhores presidentes que o Brasil já teve, o Castello Branco e o Fernando Henrique Cardoso. Mas só cita o segundo, para parecer mais moderno e politicamente correto.
> Classifica o governo JK como um período de 50 anos de inflação em 5. Pensa que é super inteligente ao fazer este trocadilho super engraçado.
> Adora um kinem. Os ortodoxos são sérios kinem as formigas e os heterodoxos são irresponsáveis kinem as cigarras. E o Estado deve ser kinem uma dona de casa: não deve gastar mais do que arrecada.
> Idolatra Hayek sem saber que ele não era ortodoxo.
> Gosta de mostrar-se como um homem mais sério e sensato que a maioria ao defender a decisão do BC de manter os juros altos. Se os integrantes do Copom decidem reduzir 0,25%, eles estão certos, se decidem reduzir 0,5%, idem, porque eles estão sempre certos. Afinal, a decisão sobre juros é técnica, e não política. Afinal, o BC tem métodos econométricos sofisticados. O problema é apenas conhecer estes métodos sofisticados.
> Acha que os 27,5% da alíquota superior do IR no Brasil é superior aos mais de 40% de qualquer país desenvolvido.
> Não tem opinião formada sobre Marx porque é economista e considera que Marx não escreveu sobre Economia.
> Torce pro São Paulo, mas só foi uma vez na vida pro Morumbi, em jogo de Libertadores, porque tem medo violência das outras torcidas brasileiras.
> Vê Manhattan Connection quase todo domingo e quando não consegue, grava o programa. Puxa em MP3 aquelas cantoras desconhecidas de jazz que aparecem nas vinhetas do intervalo.
> Idolatra “Clube da Luta”, “Encontros e Desencontros”, os filmes do Dogma 95 e os filmes do David Lynch. Considera todos esses filmes citados mais relevantes pra história do cinema do que o "E o vento levou", "Casablanca" e "Cidadão Kane".
> Não tem ouvido apurado o suficiente para diferenciar Nirvana de Foo Fighters, mas para parecer mais moderno, considera a primeira antiquada e a segunda cool.
> Não tem ouvido apurado o suficiente para diferenciar Pixies das bandas grunges, mas para parecer mais moderno, considera Pixies cool e as bandas grunge, coisa de gente suja.
> Defende o real valorizado porque elimina indústrias ineficientes (juízo feito sem conhecer direito balanço de uma empresa) e possibilita mais shows de bandas cool.
> Lamenta o fato das bandas mais cool não tocarem no Tim Festival de São Paulo, apenas no do Rio de Janeiro e no de Curitiba.
> Adora receber de presente CDs da seção World Music.
> Tem um cabelo pseudo-despenteado, uma barba pseudo-malfeita, veste roupas pseudo-desarrumadas e freqüenta bares pseudo-rústicos, como a Casa São Jorge e o Bar do Zé.
> Lê as revistas The Economist e The New Yorker, opina sobre todos os assuntos de política internacional, lamentando, principalmente a "onde de populismo na América Latina", mas não sabe quem é o presidente da Câmara dos Deputados do Brasil.
> Lamenta o fato da esquerda latino-americana não ser tão moderna quanto os democratas nos EUA e os trabalhistas no Reino Unido. Afirma que a única esquerdista séria na América Latina é a Bachelet.
> Só tem segurança em emitir uma opinião se ela também for defendida por um organismo internacional.
> Diz que os esquerdistas brasileiros que se modernizaram, porque entenderam o contexto global pós queda do muro de Berlim, só o Gabeira e o Jô Soares. Fora isso, são todos tupiniquins, jurássicos e jeca-tatu.

Fatos sobre o heterodoxóide

> Leva calculadora pro supermercado porque tem dificuldade para fazer contas.
> Quando sobra dinheiro no final do mês, aplica em ações porque poupança é coisa de neoclássico.
> Se considera de esquerda porque heterodoxo e esquerdista significam a mesma coisa.> Gosta do Hitler porque ele fez políticas econômicas keynesianas.
> Acha que as experiências mais avançadas de esquerda no Brasil foram o Plano de Metas, o biênio 1979/80(início do segundo delfinato) e o Plano Cruzado. Getúlio Vargas, por sua vez, a única coisa boa que fezpro país foi criar o BNDE. Fora isso, foi um ortodoxo.
> Considera Celso Furtado um neoclássico-monetarista-ortodoxo-neoliberal porque ele falava em poupança e usou a Teoria Quantitativa da Moeda como referência para fazer o Plano Trienal. Economista de luta mesmo, só o Belluzzo, a Conceição e o Lessa (embora este último tenha se rendido ao neoliberalismo quando começou a defender o APL)
> Acha que o Plano Cruzado só não deu certo porque o Sarney adiou o descongelamento e o PT não fez coalização em defesa do plano junto com o PMDB.
> Acha que o Plano Collor só não deu certo porque o Saddam Hussein invadiu o Kuwait e disparou o preço do petróleo.
> Se considera muito erudito porque sabe que a pronúncia correta do economista polonês é Kalétsqui e não Kaléqui.
> Acha que os formuladores da Lei de Responsabilidade Fiscal são burros, não sabem nada de economia e não conhecem Keynes.
> Entende modelos simples que contém apenas letras latinas, mas considera que os modelos muito complexos, cheios de letras gregas e latinas, não representam direito a realidade, e que portanto, são inúteis.
> Divide o PSDB em duas alas: a de direita (do Mal), composta por Pedro Malan, Gustavo Franco e Edmar Bacha; e a de esquerda (do Bem), composta por Bresser Pereira, Nakano e Luís Carlos Mendonça de Barros.
> Na eleição pra presidente de 2006, pensou em votar no Garotinho por causa do Carlos Lessa. Com a desistência, pensou em ir de Serra. Com a escolha do PSDB pelo outro, acabou votando na Heloísa Helena, porcausa do Carlos Lessa. No segundo turno, votou no Lula por causa do Sicsu e da Conceição. Mas quase anulou porque os dois candidatos eram neoliberais.
> Achou desnecessário votar na eleição pra governador de SP, porque os 4 candidatos eram excelentes opções. Serra e Mercadente eram ex-docentes do principal centro de pensamento progressista do Brasil. Quércia era amigo dos fundadores do principal centro de pensamento progressista do Brasil. Plínio era pai de docente do principal centro de pensamento progressista do Brasil.

segunda-feira, junho 04, 2007

Chávez, RCTV, Globo, mídia, Habernas, Carta Capital etc

O artigo de Habernas no Suddeutschland Zeitung na semana passada, sobre a incapacidade do mercado sozinho fornecer informação, a não renovação da concessão da RCTV na Venezuela por decisão de Hugo Chávez e a criação da TV Pública no Brasil fomentaram debates blogs, jornais e revistas afora sobre a relação Mídia-Estado-Capital.
Quem viu o Jornal Nacional na segunda passada sobre a decisão de Chávez de não renovar a concessão da RCTV teve a impressão que um órgão independente de opinião, informação e entretenimento estava sendo fechado pelo ditador malvado que não tolera críticas a seu governo. Foram mostrados até os atores de novela chorando quando o sinal foi cortado (chorar não deve ser coisa muito incomum em ator de novela venezuelana). Mas nada de lembrar que a RCTV participou ativamente da tentativa de golpe de Estado em 2002, que ainda existem três redes de televisão privadas oposicionistas, que a decisão de não renovar um contrato de concessão não é ilegal, pois assim como no Brasil, a televisão funciona por esse regime de concessão que o Estado fornece a empresas privadas, que jornais não dependem de concessão e portanto, vários editoriais em jornais venezuelanos foram escritos contra a decisão de Chávez.
A própria cobertura do acontecimento por TV brasileiras mostrou como a TV controlada por meia dúzia de grandes empresas privadas falha ao passar informações. Isso não justifica a decisão de Chávez. TV controlada por grandes empresas não é democrática, controlada exclusivamente pelo Poder Executivo é menos ainda. A não renovação da concessão da RCTV, como retaliação à participação em uma tentativa de golpe de Estado, seria aceitável se decidida pelo Legislativo, e não por poderes especiais do presidente, impostos desnecessariamente, vistos que todo o Congresso é controlado por partidários de Chávez. E o canal novo não deveria ser controlada por uma fundação quase governamental. Trocar capital por governo é trocar Caetano por Gil. Se o presidente venezuelano realmente quisesse uma TV democrática, poderia ter concedido um canal à central sindical de trabalhadoras, outro à central patronal, outro a uma associação de jornalistas etc, e definido um orçamento para cada canal. Ou então, fornecido uma TV para cada partido. Para ter audiência, estes grupos políticos não incluiriam apenas propaganda partidária, e sim novelas, filmes, noticiários, documentários etc. Mas estas TVs não estariam totalmente dependentes da audiência, porque conforme já citei, além de anúncios, teriam uma ajuda do Estado (no esquema da autonomia universitária aqui no Brasil, onde o orçamento não depende da vontade de governos).
Nesse último fim de semana, a Carta Capital dedicou uma grande reportagem sobre a mídia. Foi precisa em criticar a concentração da mídia em grandes famílias no Brasil e em grandes empresas de sociedade anônima (pior do que famílias) nos EUA. Apontou o lamentável fato da mídia ter ultrapassado sua função de simplesmente denunciar abusos e corrupção de governos, para definir agendas destes governos. Apesar de muito boa a reportagem, achei que houve duas falhas: vinculou a vitória de Sarkozy aos meios de comunicação, sem citar exemplos, e ignorando o apoio do Le Monde a Segolene Royal e exagerou em relação ao poder da mídia em moldar a opinião pública. Todos nós estamos sujeitos à manipulação de jornais, revistas, TV e internet, mesmo conhecendo este poder, porque não podemos estar em todas as partes do mundo ao mesmo tempo, nem temos parentes e amigos em todas as partes do mundo para passar suas próprias impressões. Portanto, dependemos da mídia para obter notícias. Agora isto não significa que jornais, revistas ou TV moldarão toda a opinião dos receptores da forma que bem entender. O conseradorismo da maioria da classe média brasileira, por exemplo, não depende de nenhuma mídia. Em qualquer banca tem Veja e Carta Capital para vender. Mas uma vende 1 milhão, a outra, apenas 65 mil.