Brasil de Flato, o blog

segunda-feira, junho 04, 2007

Chávez, RCTV, Globo, mídia, Habernas, Carta Capital etc

O artigo de Habernas no Suddeutschland Zeitung na semana passada, sobre a incapacidade do mercado sozinho fornecer informação, a não renovação da concessão da RCTV na Venezuela por decisão de Hugo Chávez e a criação da TV Pública no Brasil fomentaram debates blogs, jornais e revistas afora sobre a relação Mídia-Estado-Capital.
Quem viu o Jornal Nacional na segunda passada sobre a decisão de Chávez de não renovar a concessão da RCTV teve a impressão que um órgão independente de opinião, informação e entretenimento estava sendo fechado pelo ditador malvado que não tolera críticas a seu governo. Foram mostrados até os atores de novela chorando quando o sinal foi cortado (chorar não deve ser coisa muito incomum em ator de novela venezuelana). Mas nada de lembrar que a RCTV participou ativamente da tentativa de golpe de Estado em 2002, que ainda existem três redes de televisão privadas oposicionistas, que a decisão de não renovar um contrato de concessão não é ilegal, pois assim como no Brasil, a televisão funciona por esse regime de concessão que o Estado fornece a empresas privadas, que jornais não dependem de concessão e portanto, vários editoriais em jornais venezuelanos foram escritos contra a decisão de Chávez.
A própria cobertura do acontecimento por TV brasileiras mostrou como a TV controlada por meia dúzia de grandes empresas privadas falha ao passar informações. Isso não justifica a decisão de Chávez. TV controlada por grandes empresas não é democrática, controlada exclusivamente pelo Poder Executivo é menos ainda. A não renovação da concessão da RCTV, como retaliação à participação em uma tentativa de golpe de Estado, seria aceitável se decidida pelo Legislativo, e não por poderes especiais do presidente, impostos desnecessariamente, vistos que todo o Congresso é controlado por partidários de Chávez. E o canal novo não deveria ser controlada por uma fundação quase governamental. Trocar capital por governo é trocar Caetano por Gil. Se o presidente venezuelano realmente quisesse uma TV democrática, poderia ter concedido um canal à central sindical de trabalhadoras, outro à central patronal, outro a uma associação de jornalistas etc, e definido um orçamento para cada canal. Ou então, fornecido uma TV para cada partido. Para ter audiência, estes grupos políticos não incluiriam apenas propaganda partidária, e sim novelas, filmes, noticiários, documentários etc. Mas estas TVs não estariam totalmente dependentes da audiência, porque conforme já citei, além de anúncios, teriam uma ajuda do Estado (no esquema da autonomia universitária aqui no Brasil, onde o orçamento não depende da vontade de governos).
Nesse último fim de semana, a Carta Capital dedicou uma grande reportagem sobre a mídia. Foi precisa em criticar a concentração da mídia em grandes famílias no Brasil e em grandes empresas de sociedade anônima (pior do que famílias) nos EUA. Apontou o lamentável fato da mídia ter ultrapassado sua função de simplesmente denunciar abusos e corrupção de governos, para definir agendas destes governos. Apesar de muito boa a reportagem, achei que houve duas falhas: vinculou a vitória de Sarkozy aos meios de comunicação, sem citar exemplos, e ignorando o apoio do Le Monde a Segolene Royal e exagerou em relação ao poder da mídia em moldar a opinião pública. Todos nós estamos sujeitos à manipulação de jornais, revistas, TV e internet, mesmo conhecendo este poder, porque não podemos estar em todas as partes do mundo ao mesmo tempo, nem temos parentes e amigos em todas as partes do mundo para passar suas próprias impressões. Portanto, dependemos da mídia para obter notícias. Agora isto não significa que jornais, revistas ou TV moldarão toda a opinião dos receptores da forma que bem entender. O conseradorismo da maioria da classe média brasileira, por exemplo, não depende de nenhuma mídia. Em qualquer banca tem Veja e Carta Capital para vender. Mas uma vende 1 milhão, a outra, apenas 65 mil.

1 Comments:

At 12:19 PM, Blogger Zé Ricardo M. said...

A Carta Capital é aquela revista que duas semanas atrás disse que o mensalão nunca foi provado?

Assim:

"Após a explosão da chamada crise do “Mensalão” (cuja existência, aliás, nunca foi provada), em junho de 2005, a “grande imprensa” aderiu de corpo e à alma à idéia de que o governo Lula teria sido “o mais corrupto da história desse país” (outra afirmação ainda em busca de sustentação factual), e se juntou aos partidos de oposição na tentativa de “fazer sangrar” o presidente e torná-lo um candidato fraco nas eleições de 2006”.

E é aquela revista que nas matérias de economia nunca entrevista ninguém do mercado financeiro? (talvez porque todo mundo do mercado financeiro seja, sei lá, um demônio?)

A Carta Capital é a Veja com sinal invertido, só isso. Mino Carta apoiava o PMDB nos anos 80. O mundo escrito por eles também não existe, não daquela forma. Agora só falta dar um blog pro Zé Dirceu, igual o IG deu.

Quanto ao Chavez, eu defendo, desde que seja o seriado. Mas acho o Quico bem mais bacana.

Abs

PS: O Chavez vai mandar pra prisão empresário que reajustar preços. É o Plano Cruzado deles. Já começou a faltar leite...

 

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