Brasil de Flato, o blog

sábado, agosto 12, 2006

Generalizações e estereótipos

Clichês sobre nações e nacionalidades são muitas vezes enganosos. A Alemanha é um bom exemplo de como visões estereotipadas podem ser errôneas e contraditórias.
“Os alemães são ...”. A única expressão que pode substituir os três pontos sem que a frase seja equivocada é “pessoas de dois olhos, um nariz e uma boca”. Fora isso, não há como fazer generalizações em uma terra de mais de 80 milhões de habitantes, que existe como Estado único há menos de 150 anos. Também não se pode fazer generalizações envolvendo brasileiros, franceses, norte-americanos etc. Generalizações com menores dificuldades podem ser feitas talvez com povos de países como Vaticano, Môniaco, San Marino e Andorra.
Mas o caso da Alemanha é o mais intrigante devido a facilidade de construir e derrubar estereótipos tão contraditórios. Os alemães podem ser vistos como xenofóbicos por causa das atrocidades praticadas pelo nazismo e pelos problemas atuais envolvendo imigrantes e grupos de extrema-direita, mas também podem ser vistos como cosmopolitas por causa da gentileza detinada aos visitantes estrangeiros, principalmente durante a Copa do Mundo, e ao grande interesse de muitos alemães por viagens ao exterior, em alguns casos, para lugares bastante exóticos. Muita gente considera os alemães como pessoas muito frias e sérias, mas a alegria demonstrada após o segundo copo de chope desmente este clichê. Quem vê uma movimentada rua comercial na Alemanha, pode pensar que as pessoas lá se vestem mal. Mas basta entrar em um concerto de música erudita para ver muitos paletós e gravatas. Os alemães têm fama de, ao contrário de seus vizinhos franceses, verem a comida apenas como necessidade e não como prazer. Mas na Alemanha pode se comer muito bem porque tem restaurante de quase todos os tipos de culinária possível.
Eu pensava que conhecia muito sobre a Alemanha por vários motivos. Primeiro porque meu pai viajava muito para aquele país, uma vez que trabalhava em uma empresa fundada por um alemão, e mesmo depois de ter saído desta empresa, continua viajando muito pra lá. Segundo porque estudei em uma escola alemã da primeira até a oitava série, e durante quase todo este período, estudei o idioma. Terceiro porque já estive lá durante minha pré-adolescência. Quarto porque tenho um grande interesse pessoal pela cultura e história daquele país. Quinto porque vi ótimos recentes filmes alemães, como “Corra Lola Corra”, “Adeus Lênin”, “Edukators” e “O Milagre de Berna”. Mas quando eu estive na Alemanha entre os dias 16 de julho e 4 de agosto, nas cidades de Düsseldorf, Munique e Berlim, vi que ainda sabia muito pouco sobre aquele fascinante país.
Idéias que eu tinha sobre costumes locais foram derrubadas. Achava que lá tudo fechava cedo. Mas a verdade é que nas grandes cidades, isto não ocorre durante o verão. As lojas sim, normalmente entre seis e oito. Mas bares e alguns restaurantes abrem até tarde. Andei pelas ruas do centro de Düsseldorf em uma sexta-feira, por volta das onze da noite, e havia gente para todos os lados. Idéias sobre pessoas também foram derrubadas. As alemãs não têm fama de serem bonitas. A beleza está mais associada às holandesas e às suecas. Talvez devido ao clichê hollywoodiano de associar beleza feminina aos cabelos de 3L: loiros, lisos e longos. Os cabelos das alemãs, na maioria, têm só 2L. Muitos são razoavelmente curtos. Mas o motivo talvez não é esse. Muitas vezes a imagem associada às alemãs são de mulheres fortes, desajeitadas e masculinizadas, talvez por causa de épocas passadas. Quem tem esta imagem deve imediatamente jogar no lixo. Em ruas movimentadas, era possível ver uma gatinha atrás da outra. Muitos rostinhos de boneca e corpinhos bem cuidados. Como era verão e estava muito quente, a maioria das meninas usava saia, e era difícil encontrar defeitos em muitas belas pernas. Outra generalização falsa é que as alemãs não se importam com beleza. Nas ruas e nos bares de Düsseldorf, principalmente durante o período noturno, era possível ver meninas com maquiagem e unhas bem feitas. E quem pensa que quase todos os jovens alemães são gente estranha, como por exemplo punks, góticos, clubbers e metaleiros, está enganado. Há muitas tribos, mas os tribais, não são maioria.
De onde vêm os estereótipos enganosos? Pode vir de filmes de Segunda Guerra Mundial, que podem mostrar bem (ou nem tanto) aquele tempo, mas não a realidade, dos costumes de alguns imigrantes no Brasil, que vieram no tempo do Bismark e congelaram uma Alemanha completamente diferente da atual. Considerar características dos imigrantes como características do país de origem como um todo é enganoso não somente por causa deste motivo, como também do fato da Alemanha ser muito regionalmente heterogênea em termos culturais, apresentando diferenças até nas salsichas, nas cervejas e nos copos de cerveja. Outras fontes de estereótipos são os turistas que passam férias no Brasil e as impressões relatadas pelo cunhado do vizinho que foi estudar na Alemanha.
O que vale para qualquer país é a dificuldade de fazer clichês. Se no nosso próprio país existem regiões muito diferentes, cidades muito diferentes e pessoas muito diferentes, por que nos outros países isto não pode existir?

terça-feira, agosto 08, 2006

Michelangelo nos nossos dias















Já é meio lugar-comum fazer escárnio com estes dois elementos, mas um pouquinho só mais nunca faz mal.