Quando criei o blog, não imaginava que eu bancaria o colunista esportivo, mas a situação atual do meu time de coração me obriga. Ontem foi aniversário de 95 anos do Guarani, mas infelizmente não há nada a ser comemorado. Os últimos seis anos foram vergonhosos para o alviverde de Campinas. Três rebaixamentos (sendo apenas um levado a sério), quebra do tabu do dérbi (que persistia de 1987 a 2002), nenhuma vitória contra o São Paulo (última foi em 1997!), raras vitórias contra os outros grandes (Santos em 2000 e 2006, Corinthians em 2001 e Palmeiras em 2004), salários atrasados, greve de jogadores, troca de treinador a cada três meses, entra e sai de jogadores, perda precoce de revelações e contratação de veteranos decadentes. Muito triste para um clube que foi campeão brasileiro de 1978, vice brasileiro em 1986 e 1987, terceiro em 1982 (com a maior média de gols da história) e 1994 e vice paulista em 1988. Quais seriam as causas? Muito difícil saber exatamente, mas acho que em parte os problemas se devem à Lei Pelé. Antes desta lei, quando um jogador se transferia, o clube original recebia um pagamento do clube novo mesmo que o contrato já tivesse terminado. Servia como incentivo para que clubes investissem na formação de novos talentos, oferecendo treinamento e estudos a adolescentes para que eles se tornassem bons jogadores. Agora não existe mais este incentivo, e portanto, muitos times do interior estão optando por contratar medalhões ao invés de se preocuparem com as categorias de base. Quem perdeu não foi apenas clubes médios como o Guarani, que revelou craques como Careca, Renato, Evair, Neto, Amoroso e Luizão, mas também grandes como o Flamengo, que também tinha o hábito de fazer o craque em casa e que hoje passa por dificuldades. Na verdade, quem perdeu foi todo o futebol brasileiro. Para chegar a essa conclusão, basta constatar que toda a seleção brasileira joga na Europa e que foram poucos os craques revelados por times brasileiros após a Copa de 2002. Antes da lei ser aprovada, os cronistas esportivos favoráveis chamavam os opositores de "escravocratas". E esta "abolição da escravatura" resultou em..., ... salários atrasados em vários times brasileiros. Voltando ao Guarani, esta má fase obviamente não pode ser explicada apenas pela Lei Pelé. Contam também os dez anos de Beto Zini e principalmente os sete de Lourencetti. Duas gestões marcadas por incompetência e falta de trnasparência.
Mas o que eu gostaria de destacar aqui é a torcida. Mesmo durante a fase que o Guarani não estava ruim, o público no Brinco em jogos contra times pequenos raramente passava dos 5000. Sinal de que os torcedores do Bugre são pouco presentes? Não necessariamente. Imaginemos que existam 100000 bugrinos no total, todos eles morando em Campinas. Se vão 3000 em um jogo, isto equivale a 3%. Já pensou 3% dos corintianos num estádio, contando apenas os corintianos que moram em São Paulo? Isto é muito raro de acontecer. Observa-se também que contra os times grandes, a torcida bugrina às vezes comparece em minoria. Nada muito anormal, uma vez que mesmo em Campinas tem mais corintianos, são paulinos e palmeirenses do que bugrinos e ainda tem os torcedores vêem de fora. Mas por que muitas vezes tem mais gente que vai ao estádio torcer pelo Marília ou pelo Rio Branco do que pelo Guarani? A resposta é simples: o fato de ser um time médio e não um time pequeno. Clubes de cidades pequenas atrai moradores que torcem por algum time grande da Capital. Já o Bugre se orgulha de não possuir torcida mista. O cara pode ser ao mesmo tempo União São João e Corinthians, Mogi Mirim e São Paulo, até a Ponte Preta tinha torcida mista. Mas bugrino é bugrino e ponto final. Isto porque durante duas décadas, o Guarani competiu pra valer com os grandes. Sempre quando alguém me pergunta o time que eu torço e após ouvir que ou bugrino, pergunta "e dos da Capital?", eu tenho vontade de erguer o dedo do meio.
Infelizmente essa pergunta estúpida pode se tornar cada vez mais comum devido aos anos vergonhosos. Me impressiona ver crianças no Brinco de Ouro que não eram sequer nascidas em 1996, ano do último time competitivo. Temo que estejam lá só por influência dos pais e que mudem de time rapidinho, por não agüentar ver o que está aí. Durante meu período de escola (1991-2001), eu já era minoria perto dos gambás, dos bambis e dos porcos.
Tento imaginar como é agora. Em breve o hino terá que ser modificado. O "na vitória ou na derrota, hoje e sempre Guarani" se transformará em "no empate ou na derrota", porque vitória está bem difícil.