Os analistas em Futesociologia
Em época de Copa do Mundo, multiplicam-se os especialistas em futebol. Até aí tudo bem, é muito agradável discutir em uma mesa cheia de garrafas de cerveja se quem deve começar jogando é o Robinho ou o Adriano. O problema principal são os "especialistas" em futesociologia. Há os analistas patriotas, que lamentam o fato dos brasileiros usaram bandeiras nacionais apenas de quatro em quatro anos. Como se patriotismo significasse a cópia de um hábito estadunidense. Não uso bandeira do Brasil na janela da minha casa fora do período de Copa do Mundo e ponto final. Na verdade, nem em época de Copa eu uso. Bom, continuando, há os analistas caxias dizem que o Brasil é atrasado porque o povo é indolente, uma vez que pára todo o trabalho em dia de jogo do Brasil. Como se uns quatro dias a cada quatro anos fossem fazer muita falta. Como se um pouco de diversão não fosse necessário. Por fim, como ano de Copa é ano de eleições gerais no Brasil, há os analistas "politizados" que reclamam que o mundial de futebol, uma futilidade, desvia atenção de algo mais importante, as eleições. Como se um evento que ocorresse três meses antes afetasse tanto. Neste ano, acho que a futilidade das eleições está desviando a atenção dos brasileiros para algo muito mais importante, a Copa do Mundo. Os adeptos mais extremados deste ramo especial da futesociologia, que é a futepolítica, associam o resultado da Copa com o das eleições. Dizem que as possibilidades de vitória da situação são diretamente proporcionais ao sucesso da seleção brasileira, uma vez que a vitória dos canarinhos deixaria o povo mais contente. Façamos um teste empírico em relação ao período em que houve eleições regulares no Brasil em ano de Copa.
1982: Brasil é eliminado na Segunda Fase pela Itália, fica em quinto (fracasso da seleção), e oposição ao regime militar, composta por PMDB e PDT, conquista os governos dos principais estados (vitória da oposição).
1986: Brasil é eliminado nas quartas-de-final pela França, fica em quinto (fracasso da seleção), e partido do governo Sarney, o PMDB conquista 22 dos 23 estados (vitória da situação).
1990: Brasil é eliminado nas oitavas-de-final pela Argentina, fica em nono (fracasso da seleção), e partido de Collor, o PRN, amplia sua bancada no Congresso (vitória da situação).
1994: Brasil é campeão (sucesso da seleção), e Fernando Henrique Cardoso, então Ministro da Fazenda é eleito (vitória da situação).
1998: Brasil dá vexame contra a França e é vice (fracasso da seleção), e Fernando Henrique Cardoso é reeleito (vitória da situação).
2002: Brasil é campeão (sucesso da seleção), Lula é eleito e PT faz a maior bancada (vitória da oposição).
Em suma: a relação entre futebol e eleições é totalmente "nadavê". Foram obtidas todas as combinações possíveis de resultados. A única possível correlação possível a ser feita com futebol é a economia. O título de 1958 coincidiu com o Plano de Metas, o de 1970 com o Milagre Econômico e o de 1994 com o Plano Real. O fracasso de 1982 coincidiu com a crise da dívida, o de 1986 com o Plano Cruzado, o de 1990 com o Plano Collor e o de 1998 com a crise da Rússia e a derrocada do Real. Mas isto é apenas coincidência. Momentos bons da economia no Brasil muitas vezes coincide com momentos bons no mundo, e o mesmo ocorre com os momentos ruins. Por exemplo, 1982 foi ruim para o Brasil, mas também foi ruim para a Itália, campeã naquele ano.
É verdade que já houve na história algumas associações entre futebol e política para o mal, como na Itália em 1934 e na Argentina em 1978, ou mesmo o uso propagandístico da seleção brasileira em 1970, assim como associações para o bem, como o título de 1990 da Alemanha, que coincidiu com a reunificação daquele país. Mas isto todos estes casos são mais excessão do que regra, e atualmente, não existem mais pretextos para tais associações.
É óbvio que futebol e política estão ligados atualmente, uma vez que o futebol é um negócio milionário e existe um grande envolvimento de empresários e políticos, para o bem e para o mal. Quando a Fifa decide aumentar o espaço a África e da Ásia na Copa, e diminuir o da Europa e da América do Sul, trata-se evidentemente de uma decisão política. O que se afirma aqui são apenas as inconsistências de algumas análises, que superestimam o papel do mundial de futebol. Tanto os pessimistas, citados no texto até então, quando os otimistas, que vêm no torneio um momento de "paz entre os povos", "uma oportunidade de transferir os conflitos beliciosos entre os países para uma saudável disputa de bola". Copa do Mundo não é nada disso, é apenas um evento para apreciar o futebol dos maiores craques do mundo, juntar família e amigos para torcer para a seleção, tomar cerveja, discutir a escalação e se divertir.
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